7 de out. de 2007

"ENTREI DE GAIATO!" MUDOU DE ENDEREÇO

entreidegaiato.wordpress.com

Analisando os pilotos: "Aliens in America"

“Um Everybody Hates Chris religioso”, foi o que eu pensei após ver o piloto de Aliens in America, uma série da CW (mesmo canal de EHC) e sem previsão de estréia no Brasil. O que as duas séries compartilham é o espírito juvenil consciente e a idéia da vida em uma bolha num ambiente tão repleto de relações, como o colégio.

No caso de Aliens, a idéia é ainda mais arriscada, porque trata-se de um muçulmano típico no meio de americanos típicos. Raja é estudante de intercâmbio, e sua família hospedeira resolve abrigá-lo para incentivar seu filho Justin a crescer no colégio como uma figura (não como aluno, e por ele não ser uma "figura", na sociedade em que vive, ele é "alien"). A expectativa de um inglês carismático e popular faz com que eles (os pais da casa) fiquem chateados com a vinda de um paquistanês, mas ao final do episódio piloto, a conquista vem do ser humano que há dentro do intercambista (sem pai nem mãe), e não sua religião (rezar virado para a Meca e convidar Justin) ou aparência (er... muçulmana?).

Raja, como personagem, é menos interessante que o que ele faz por Aliens in America. Não é uma figura necessariamente carismática, e pela caricatura que é construída ao seu redor, não ganha dimensões muito profundas. O “alien” realmente interessante daqui é Justin, porque através dele, a empatia vem, e a série faz um uso esperto de sua narração, num tom confessional nem dramaticamente exagerado, nem superficial. O personagem precisa da narração para ficar completo, e embora muitos possam achar isso um defeito, eu creio que é uma forma de tornar o personagem ainda mais próximo do telespectador - também é a responsável por fazer da série um momento muito mais alegre que hilário (por enquanto).

Esses dois personagens, colocados no colégio, fazem da série uma experiência subjetiva – cada vez que são humilhados ou passam por apuros, o roteiro transpassa a bolha em que os personagens vivem, e ali fica alojado. Há um filme que mostra essa experiência levada ao extremo, Pink Floyd – The Wall, e a metáfora aqui não é “personagem vive em uma bolha”, mas sim “com muros ao seu redor”, que é basicamente a mesma coisa. Para o desenrolar da temporada, Aliens in America poderia desenvolver um pouco mais o colégio em que Justin e Raja irão estudar por um bom tempo, fazendo desse ambiente um lugar não apenas que os acolha para a humilhação, mas para que mostre profundamente um ambiente com dois corpos estranhos ali. Falta ampliar essa visão, mas não dá para cobrar isso de um piloto que dura apenas vinte minutos.

O espírito desbragadamente alegre da série convence e acolhe o telespectador em meio ao tom do absurdo e das caricaturas (o próprio Raja, a mãe e o pai de Justin, tipo de caricaturas inofensivas), pega clichês de filmes de high school para fazer bom uso deles, e os poucos minutos da metragem viram um momento suave, mas culturalmente importante, ao abrir os olhos à alienação norte-americana quanto a estrangeiros. Essa afirmação pode até parecer cafona e careta, mas só quem já ouviu um americano perguntar se existe McDonalds ou Coca-Cola no Brasil sabe o quão realmente importante isso é.

***

Uma outra coisa sobre Aliens in America a se pensar é: quanto irá durar o programa de intercâmbio de Raja? Sabe-se que esses programas são de um ano, então fica a expectativa sobre como irá a série resolver esse enigma caso ganhe uma temporada completa e outra, e outra...

6 de out. de 2007

Analisando os pilotos: "Private Practice"

A primeira cena de Private Practice (nos EUA, pela ABC; sem previsão de estréia no Brasil) deixa claro que a vaga de Addison ficará aberta por um bom tempo no Seattle Grace. E porque adoro a Kate Walsh (com fundamento!), eu recomendaria que ela voltasse para Grey’s Anatomy (uma ótima série), não só por ter visto o piloto de sua nova série, mas também por ter visto a estréia da temporada de seu último programa, e ter percebido que ela faz falta lá.

Private Practice faz errado praticamente tudo. A tal cena citada no parágrafo acima, para você ter uma idéia, já faz questão de dar um pontapé muito mal dado, estereotipando personagens de uma forma irreversível, através de uma narração explicativa unidimensional. E é a primeira cena.

Addison é uma boa personagem, sem sombra de dúvida, e ela é atraente no piloto do programa, mas tudo ao seu redor é tão repulsivo que qualquer adoração não consegue ser sustentada por muito tempo. A quantidade de personagens ao redor dela é pequena, e juntos conseguem fazer um elenco de uma série de drama cujo conjunto pende ao tom da comédia. Logo, é muito chato que um diálogo do piloto esclareça que os doutores do hospital ao qual Addison mudou-se não tenham nada a fazer por boa parte do período de trabalho. Gente desinteressante sem nada a fazer? O resultado é uma série desinteressante (o piloto é ruim, mas para afirmar que a série também será ainda é cedo), que ao menos tem suas artimanhas para manter Addison como protagonista.

Vendo todo aquele visual litorâneo, e aquela bagunça narrativa, pobreza no enredo, falta de medicina real e diálogos infelizes, lembro que a criadora disso aqui também é a criadora de Grey’s Anatomy, uma série com bases muito mais fortes e um desenvolvimento, em três temporadas, excelente. Shonda Rhimes fez coisas boas por Grey’s, e mesmo a trilogia do acidente marítimo na terceira temporada, que tanto aborreceu a comunidade da internet, agradou-me um tantinho. Não significa que tudo que ela faça venha a ser bom. Aliás, Private Practice é um rédito do lado fraco de Shonda Rhimes, que no passado escreveu (you’re not gonna believe this!) Crossroads, o filme de Britney Spears.

Não fosse spinoff de uma série de sucesso, o comentário geral seria sobre a possibilidade mais que real do cancelamento de Private Practice.

5 de out. de 2007

Analisando os pilotos: "K-Ville"

Pelo piloto, o telespectador não consegue descobrir muito sobre o que K-Ville (nos EUA, Fox; sem previsão de estréia por aqui) trata. Seria uma série policial? Seria uma série sobre Nova Orleans? O que ocorrerá no próximo episódio? Ficam muitas dúvidas no ar, mas, no final, trata-se de uma série policial em Nova Orleans sem uma direção fixa da narrativa. Talvez seja primeira série a pegar realmente firme na cidade, atingida pelo infeliz furacão Katrina, do qual todos nós já ouvimos falar.

E essa primeira série tem a alma da cidade, definitivamente. Há musicalidade, sotaque, enfim, há uma bela ambientação. O título é uma referência ao nome “Katrinaville”, uma coisa local, e a escolha de uma abreviação desse nome mostra, mais uma vez, o quão próximo à cidade K-Ville é.

Em contrapartida à alma que a série acha para falar sobre Nova Orleans, seus personagens e a forma como o Katrina é tratado não recebem tamanho carinho do roteiro, e isso deixa o programa menos sólido do que poderia ser.

A ação da série, por exemplo, é fraca, e, embora movimentada, não é proêmio de nada (a não ser... ver o bad guy de Zodíaco ser o chefão dos cops aqui!). Não há originalidade na ação, e o quanto mais a rapidez é forçada, mais parece estar emulando alguma coisa indefinida. Quando é dramática, K-Ville usa o personagem de Anthony Anderson, um ator dedicado, e que não deixa o drama ir muito além do necessário, como às vezes o roteiro parece propor (o diálogo com a esposa, com o colega de trabalho, etc).

O personagem de Anderson tem uma relação com seu parceiro policial Cobb (Cole Hauser) que parece guiar a narrativa, e será a chave para entender o que os próximos episódios terão. Na relação dos dois, há algo de tenso, que, eu acredito, deveria ser mantida por mais um tempo – quando há a tensão, personagens revelam muito de si, e uma resolução ao final do piloto parece-me cômodo demais, até mesmo cafona.

O saber falar sobre uma cidade muitas vezes é fácil, já que para captar aquilo que ela tem a dizer, basta visitá-la constantemente, ou ter nascido e crescido no lugar. Veja o tratamento que séries como The Wire e Gilmore Girls já deram às suas respectivas ambientações. A dedicação que K-Ville presta a uma cidade tão sofrida seria mais bem aproveitada se fosse direcionada a outros pontos, já citados no texto, porque uma cidade também é seu povo.

4 de out. de 2007

Analisando os pilotos: "The Big Bang Theory"

Ontem, publiquei uma resenha negativa sobre o episódio piloto da primeira sitcom nova que eu vi nesta temporada – e, porque não serão muitas, o fato desta (Back to You) ter sido decepcionante já é chato. Eis que vi outra, The Big Bang Theory (EUA, pela CBS; sem previsão para o Brasil), e gostei bastante.

A primeira cena é sensacional, e, indiscutivelmente, a melhor do piloto. Ela nos apresenta dois personagens com QI alto que querem doar seu esperma a um banco apropriado, mas hesitam na hora. Na volta ao apartamento, ambos descobrem uma nova vizinha, linda, que deixa um dos dois protagonistas tentado a convidá-la para uma refeição informal em casa. Daí para frente, há um desenrolar da relação deles com ela, e deles com suas manias e tiques.

Big Bang Theory tem de melhor, em seu piloto, a forma de desenvolvimento. Não há um enredo a ser desenrolado, mas a psicologia dos personagens. Quanto mais expostos a novas situações, mais nós conhecemos a intrincada vida nerd deles. Claro, nada ali é super profundo, porque, afinal, estamos falando de uma sitcom. Mas de pensar que a série consegue criar uma linha de desenvolvimento sólida, da primeira à última cena, fazendo o episódio acabar completo, redondo e explicado (também absolutamente hilário!), já é louvável.

O roteiro não tem grande ousadia, mas tem boas idéias. Os dois protagonistas são excepcionalmente bem delineados, e o que é mais incrível – mesmo vivendo juntos, tendo as mesmas compulsões e gostos, nós sabemos quem é quem, sabemos diferenciar um do outro claramente. Há o perigo de que, com mais personagens do estilo dos protagonistas (nerds, sozinhos, etc), a série acabe um pouco irritante, por ter um universo tão mínimo e que, caricato, pode terminar rebuscado. Eu honestamente não acredito que isto acabe acontecendo, mas algumas aberturas para isso já foram feitas (aqueles coadjuvantes poderiam ser substituídos), então, só vendo o resto para saber.

E há, sim, essa sedução imediata, que nos deixa com vontade de ver os seguintes episódios. Tomara que não caia no lugar-comum de ser a sitcom que debuta cedo e é cancelada – além do mais, é da CBS! Pode terminar sendo a série cult da fall season.

Esse amor por tevê que os criadores (uma dupla!) parecem ter e as referências (culturais – Battlestar Galactica – e científicas), unidas à facilidade que os protagonistas são trabalhados, deixa uma sensação de que, no final das contas, Big Bang Theory é um trabalho subjetivo.

3 de out. de 2007

"Oh my God, e agora, sou negra ou sou mulata?"

O Sony é o Sony, não adianta: assim que acabou o episódio de estréia do Brazil’s Next Top Model, eis que surgiu uma propaganda dizendo que “nesta quarta-feira, começa a disputa do...”. Esse tipo de coisa, nós, coitados telespectadores, estamos acostumados a ver. Fala sério, é a nossa diversão! Mas o que foi realmente inesperado nessa estréia é a revelação do que significa o padrão Sony de reality shows.

Surpreso eu não estou, porque a direção do reality tem tudo menos novidades. Mas, ei, não entenda negativamente o que eu disse. Porque o programa é tão bem realizado quanto o americano. Eu seriamente duvido que a Sony tenha bolso para levar as modelos do programa ao exterior, como a versão americana faz. Mas, se o bolso não estará grande, eu espero que até o fim o nível mantenha-se bom, ou melhore.

As garotas que participam são lindas, algumas simpáticas, e a apresentadora também é linda e bem sucedida. Funciona como apresentadora? Não muito. Ainda falta perder a camada extra de tinta e ficar enxuta. A (deliciosamente má) Tyra Banks também não é uma grande apresentadora, mas, quando está apresentando, não fica tão ausente, tão presa a um roteiro como a nossa Fernanda Motta. O júri nacional, em contrapartida, é melhor que o americano. Bem melhor. Eu sempre gostei do ANTM, e se algo me incomodava, eram os jurados. Nesse ponto, eu confesso que fiquei feliz como um tupiniquim orgulhoso. Yeah.

O programa, em si, também é motivo de orgulho. Talvez ainda um pouco publicitário demais, o Brazil’s Next Top Model lembra o nacional O Aprendiz – e, estranhamente, o The Apprentice nada tem a ver com o America’s Next Top Model. A sombrancelha é para Motta o que o cabelo é para o Justus.

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Para registrar: não dá para deixar em branco o corte absurdo num depoimento de uma das participantes logo após um “mas” dito. Notaram também? Foi bem ao fim do episódio. Tentem pegar na reprise, se não perceberam.

"Desperate Housewives" está de volta, e está de matar

Eu acho que não vai agradar àqueles que já pregam o "fim do 'tempo' de Desperate Housewives, ou àqueles que assistem e não gostam de qualquer forma - mas eu espero que você não seja nenhum desses, porque, meu amigo, eu achei a premiere da quarta temporada de DH a melhor da série (fora o piloto, porque eu não conto muito como uma premiere). Teve Lynette Alien, Edie Suicidal, e a Bree (!), Jesus, melhor mudança de cara forçada dela NA SÉRIE INTEIRA! Um blé na nova vizinha. Sério, Marcia Cross precisa de um Emmy urgente. Urgente.

DH não é a melhor série no ar, mas seu retorno é o que mais me deixa curioso, o que mais me dá prazer. Why? I dunno. Vai ver é a Marcia + a Felicity. Vai ver...

Vai ver tá na hora de eu correr pra ver Brazil's Next Top Model.